CRISTINA VALADAS

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© 2017 Cristina Valadas

& Teresa Teixeira

NO LABIRINTO DOS AFECTOS

 

"O labirinto retrata a viagem

daquele que iniciou o caminho

ao encontro da sua essência."

Cristina Valadas

 

 

Comummente entendido como um lugar de confusão, para a Cristina Valadas um labirinto é um lugar de procura. Onde nós nos perdemos, a Cristina encontra-se e encontra-nos. Encontra-nos em pequenos gestos de significado grande, em momentos genuínos de força e desamparo, em obras que se bordam entre objectos simples e os sentidos mais complexos da vida.

No labirinto dos afectos moram peças de uma ternura impossível, coisas inanimadas às quais foi oferecido o poder de carregarem a profundidade intangível do mundo. Existe uma dimensão da realidade que não se deixa ver, tocar ou ouvir e, no entanto, encontramo-la aqui, em pedacinhos de coisas feitas afectos, pedacinhos de coisas que ganharam o dom de ser visíveis, tácteis e sonoras. O papel, a madeira, o vidro, os metais, o tecido — sobretudo o tecido, como metáfora perfeita dos pequenos pontos que nos bordam a vida — atravessam uma metamorfose da matéria em algo muito mais, possível apenas por um processo inteiro de autoconsciência, descoberta emocional, arrumação de sentido e, finalmente, criação. Uma elevação de objectos comuns à condição de testemunhas de memórias e sentimentos, vivências e aprendizagens, momentos de partida e lugares de chegada.

O percurso no labirinto dos afectos faz-se em três momentos que são estruturantes no todo e, talvez, fracturantes entre si. Etapas de um caminho que se percorre nas dimensões do tempo, do espaço e da consciência. Seguimos os passos da Cristina, feitos peregrinos na procura, na observação, na autoanálise e na mudança. Tornamo-nos testemunhas dos gestos da arte e dos afectos que são pessoais e partilhados, íntimos e universais. Em cada sala, a nossa própria história de vida. Em cada peça, a nossa própria capacidade e necessidade de ternura. Em cada passo do percurso, o labirinto que cada um carrega em si, algumas vezes percorrido ou ainda à espera de ser descoberto.

 

 

 

 

I. ORIGEM

Em Origem, a primeira sala do labirinto, a representação simbólica de cada elemento da família matricial. O primeiro chão, o primeiro tudo. As experiências que marcam todas as perspectivas e todos os gestos de então em diante, as presenças que nos acompanham, para sempre, em todos os caminhos e as ausências que ecoam, também para sempre, nos vazios que carregamos connosco. As memórias, os conceitos e as ferramentas com que partimos rumo à nossa própria feitura da vida. A nossa construção.

 

II. CONSTRUÇÃO

Em Construção, os afectos da idade adulta. A entrega inteira das muitas instâncias do amor, da criação de caminhos novos, pisados em comum, a ternura absoluta da maternidade e tudo o que ela transporta, como condição necessária de dúvida e procura das razões da sabedoria, da protecção, da cumplicidade. A missão de construir as pontes que ligam as novas vidas que se inventam ao mundo que as há-de receber.

 

III. VIAGEM

Em Viagem, a terceira sala, encontramos o ponto de chegada que é, naturalmente, aquele de onde foi possível partir para a descoberta e criação deste labirinto. O ponto de onde partiu a capacidade de descobrimento e de compreensão dos afectos como elementos constitutivos do ser que somos. Aqui se encontram as chaves capazes de abrir as portas e os mapas apontadores de rumo que, numa viagem interior, tomam os nomes de consciência, introspecção e conhecimento. Um caminho que se faz através de uma entrega sem condições ou reservas. A rendição inteira que dá início à viagem e conduz ao reprincipio de tudo.

 

No fim, chegamos ao princípio, mesmamente convidados a visitar a nossa Origem, a conhecer a nossa Construção, a traçar a nossa Viagem.

É desconcertante e enternecedora a simplicidade com que na arte reconhecemos a artista, entrados que estamos num momento de luz. É esse o presente mais genuíno. Em plena consciência da sua Origem, em paz com a sua Construção, comprometida com a sua Viagem, o que recebemos de Cristina Valadas é tudo seu e inigualável e, também, tudo nosso e partilhado. Uma completude entre substância, mente e espírito, genuína no conteúdo, profunda no sentido, pura na essência.

 

Raquel Patriarca